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fpfcorp 08/09/2021 1128

KK: Duas mortes anunciadas num só Homem

Por Jorge Ferrão & José Castiano

O comboio que anunciara a sua morte apitou duas vezes. Nestas ingentes palavras, comecemos pelo último apito. Oficiální, o oznámení o hospitalização dava conta de que „não se tratava de Covid-19“. Não obstante, sobraram dúvidas sobre o seu estado de saúde. Ainda repercutia, em nossas recordações recentes, odisseia do vizinho Presidente Magufuli. Para a nossa geração, nós, que crescemos contemplando a parte final dos nacionalismos e pós-independências, sabemos, como parte de uma cartilha, que nunca se anunciam os mal-estares e muito menos as patrançlides das. Přísnost, quando se trata dos progenitores ou Heróis das Lutas de Libertação.

Entre mitos ou tabus, recebemos duas heranças, se não forem mais, šavle: a das teorias de conspiração socialista, onde Kreml ou Havana, escondiam os internamentos dos seus líderes. Era comum inventar artefactos, duplos, ou sósias, para os substituírem em ocasiões públicas. A segunda herança é da própria tradição africana: não se devia saber que o Rei padecia, nem que sofria, como qualquer humano, de outras fraquezas. Nem mesmo depois da morte. Čekám na návštěvu

Emankhosini,

lugar onde foram enterrados os Reis Zulus (menos o Shaka Zulu, é claro), saberá jako aquele lugar foi mantido em segredo pelos Nkhosis. Devia manter-se o mito de uma existência ancestral.

Kaundina hospitalizace byla předběžným oznámením o její smrti. Pro Magufuliho můžeme být rozptýleni, ale pro 96letého muže nebudeme tolik rozptylováni. Možná je jeho dlouhověkost tím, že vede jednoduchý život. Nepije ani nekouří. Pochází z věřící rodiny. Byl učitelem. Kytaru nosí kamkoli (včetně oficiální návštěvy Kremlu), ať už ji má nebo ne. Vždy zpívá.

E aqui passamos à segunda parte da dupla-morte anunciada. Em 2013, nas cerimónias fúnebres de Mandela, seu companheiro na luta contra o apartheid, mantemos vivas aquelas imagens da correria desenfrada que iniciou, pelo meio da sala, para discursar e provar que estava em form. Depois, puxou pelos pulmões entoou a música-predilecta (quiçá uma das suas inúmeras composições),

tiyende pamodzi na n’tima umodzi,

esse hino nacionalista que apelava à união de todos num só coração. Nesta cerimónia fúnebre, porém, já poucos o seguiram. Era o prenuncio da sua caminhada para o final, como o último nacionalista que pregou uma era inteira de libertação, afirmação e identidade, na África Austral.

Jako poslední memoraveis nacionalistas africanos, Kaunda, tinha algo em zvláštní que o distinguia. O simbolismo com que se fazia presente em cerimónias oficiais e eventos públicos, que tipificava as glórias das lutas. Os outros líderes seguiam os mesmos exemplos. Mobutu Sese Sekou levava uma bengala-talismã, talhada de leão e outros animais; Kamuzu Banda trazia sempre consigo um rabo-de-leão; até mesmo o pacífico

mwalimu

Nyerere, dělejte

Ujamaa,

trazia semper uma „bengala“ da sabedoria; o Mandela inaugurou jako „madibas“; Samora Machel especulávamos sobre o seu relógio „mágico“. Žádné entanto, a semelhança e, ao mesmo tempo, a diferença do Kaunda estava no seu talismã, um lenço branco, muito branco, com o qual acenava às pessoas em qualquer momento.

Que simbolismo arrastava aquele lenço branco no meio de tradiční africké leões, leopardi, sloni atd.? Recordemos que o Shaka Zulu se sentava sempre em cima da pele de um leão que ele próprio matava, numa luta preparada, quase que anualmente. Quando visitamos o santuário dos Macheis, em Chókwè, o nosso guia-historiador do Museu deleita-se em contar a history da luta de Machel com um crocodilo que queria comer um dos bois que ele apascentava.

Na autobiografia épica de Kaunda,

Zambie bude svobodná,

conta-se da aparição de um leão enorme, ao qual ele ele afugentou com a sua bicicleta. Apesar da época de heróis e de misticismos nacionalistas independentistas de pais-fundadores, por quê, este homem, escolheria um “lenço branco”, tão assim que se distinguia de todas as cores?

Neste infausto moment, no assalta à memória and solidão que o acompanhou, antes desta party, cantando e dançando, sozinho, or seu

tiyende pamodzi.

Alguns factos ajudam a entender o enigma do lenço branco. Basta, para o efeito, que nos recordemos das imagens das negociações dos Acordos de Lusaca, assinados entre o Governo Português a cúpula da Frelimo, chefiada por Samora Machel, em 1974. co.

Um ano mais tarde, em 1975, voltamos a ver o mesmo lenço branco, mítico, quando mediava and questão Zimbabwe, encontrando-se com Ian Smith a John Voster nas conversações de

Victoria Falls

. Ali, naquela carruagem vetusta colocada, exclusiveamente, numa fronteira imaginária, em cima do Rio Zambeze, ele não deixou de acenar. Respondia, com humildade, às maniacas exigências dos Brancos Smith and Voster, que assumiam, ainda, dominar or território “branco” da Rodésia and os nacionalistas “negros” on parte Zambiana. Antes, o mesmo Kaunda tentara mediar a união entre um Mugabe e um Joshua Nkomo, dois nacionalistas relutantes, para se unirem (em abono da verdade, deve dizer-se que Kaunda inclinava-se mais para o movimento Joshuqueado peg seu irmão Mugabe).

V roce 1982, voltamos a ver nebo lenço branco, num encontro in Botswana, desta vez as o Pik Botha, of África do Sul, com Kaunda and exigir a libertação immediata de Nelson Mandela. E, no tempos difíceis para todos nós, no anos oitenta do FMI a suas policy de “austeridade” e “Estado Minimo” to Consenso de Washington, Kaunda voltaria and exibir nebo seu lenço branco, recusando as da União Estado como tanto dos Soviética, acenando a sua porta aberta para a China. Aliás, esta posição já era antiga. Recorde-se que ele mandara os chineses construírem o Grande Projecto

Zambie Rail Ways

(ha uma foto famosa em que Nyerere visita je empreendimento austral).

Quando Mandela saiu da prisão, viajou de imediato para Zâmbia para se encontrar com a direcção do ANC, no exílio, para eventuais acertos sobre as transições de poder e de reconciliação que se seguiriam; uma parte daqueles guerrilheiros tinha saído de Moçambique por causa dos Acordos de Incomáti. Lusaca e o iconoclasta Kaunda voltavam a ser a capital do lenço-branco.

Qual ​​era a fonte desta convicção “nacionalista” de que as independências também se podem fazer em cima de um lenço branco? Kaunda lera e admirara-se profundamente por Gandhi, pela sua luta pacifista. De certa forma até tentou adaptar a

politika nenásilí

Náš afroaustralský kolonialismus a menšinový režim bílého rasismu v Jižní Africe a Rhodesii. Dnes, jak se již včera spekulovalo, můžeme říci, že chce potěšit Athéňany a Trojany zároveň. Jistě, Kaunda ví, jak přežít a přežít, dokud se nestane posledním nacionalistou, kterého můžeme ukázat „přechodné generaci“.

Como qualquer ser humano e líder, Kaunda, foi um homem com defeitos, controvérsias e outtras nuances. Isso foi. Em plena onda multipartidarista, ele preferiu continuar a ver o seu partido independentista jako „único“. A pagou caro por isso: o Chiluba, perante a iminência do regresso de Kaunda às eleições e, talvez, temendo o triunfo do “histórico”, mandou instaurar um processo que o proibia de contestar as eleições por de paer naturais de Niassalândia, Malawi). Uma certa teimosia, em defesa da „Soberania de Estado“, fez-lhe arrastar o povo por uma crise do cobre que, até hoje, a Zâmbia, ainda, tenta recuperar-se. Sofreu tentativas de assassinatos.

Mas uma coisa é certa: pelo facto do seu filho mais velho ter morrido de SIDA, continuou a sua luta nacionalista levantando o seu lenço branco contra esta doença e em prol dos zambianos. Com o seu lenço-branco foi a todos os funerais de seus antigos camaradas (Nyerere, Machel, Mandela, Mugabe atd.) até que chegou a sua vez. Foi assim o último nacionalista de lenço-branco, o lenço da libertação e da paz negociada. Parte para a eternidade o percursor de Mandela, mas que soube fazer da sua Lusaca, a capital da paz.

KK continua um nome indefectível e embrenhado em nossas consciências, neste infausto momento. Não saberemos desvendar o que a eternidade nebo reserva. Todavia, temos a convicção de que KK perdurará como homem livre, insubmisso, fraternal e muito atento. Será semper o fiel servo das memórias da sua revolução e dos movimentos revolucionários dos países vizinhos.

Com o lenço, to je symbol de Paz, Kaunda nos deixou três livros, nomeadamente

Hádanka násilí, Humanista v Africe

e

Dopis mým dětem

que agora vamos des frutar com leituras and olhos different

.

De uma coisa nós temos a certeza, a luta vai continuar!

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